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EXCLUSIVO: Artista plástica e esposa do escritor Paulo Coelho presta entrevista à TV Diário do Sertão

Christina Oiticica ficou conhecida como 'a mulher que enterra quadros' ao desenvolver uma técnica exótica onde trabalha em parceria direta com a natureza

Por Priscila Tavares

26/07/2023 às 23h43 • atualizado em 27/07/2023 às 11h48

O apresentador Caliel Conrado, da TV Diário do Sertão, entrevistou com exclusividade a artista plástica e escultora Christina Oiticica, conhecida como ‘a mulher que enterra quadros’. Christina desenvolveu uma técnica exótica em que suas pinturas são enterradas na natureza, deixadas em leitos de rios, de árvores, florestas, vales e montanhas; técnica que lembra muito a Land Art e a Ecoarte.

A artista é carioca, mas mora em Genebra, na Suíça, desde 2008. Christina é casada com o escritor brasileiro Paulo Coelho. Ela tem raízes nordestinas e contou que sua mãe é de Natal, no Rio Grande do Norte, seu pai de Rio Largo, em Alagoas, e explicou que sobrenome tem ligação direta com a árvore Oiticica, encontrada no Sertão.

Até então, Christina é única artista renomada a realizar esse tipo de trabalho, essa parceria com a mãe natureza, e afirmou ser um trabalho muito gratificante que torna seus quadros únicos.

“Eu comecei porque eu morava num pequeno hotel, nos pireneus franceses, e para mim era muito difícil. Eu tinha uma exposição em Paris, precisava terminar os quadros, eu não tinha onde terminar, o hotel era pequeno. Então, eu resolvi levar os quadros para terminar de pintar na floresta ou no campo e deixava lá durante a noite. Quando eu voltava no dia seguinte, eu sempre tinha uma surpresa muito grande de que algum inseto grudava na tinta, uma folha que caia, ou algum animal noturno vinha e mexia e eu ficava ‘estragou meu quadro’, mas logo depois eu senti como se fosse uma epifania. Eu achei tão maravilhoso trabalhar com a natureza”, afirmou Christina.

Christina Oiticica, artista plástica (Foto: Divulgação/ Instagram)

As obras 

A primeira obra que Christina fez em contato direto com a natureza foi uma tela de 10 metros intitulada ‘As Quatro Estações’, que demorou um ano para ficar pronta.

“Eu ia deixando outros quadros enterrados, em lugares que eu achava simbólicos para mim, ou em cima das árvores e aí surgiu essa exposição, ‘As Quatro Estações’, que eu apresentei até no Rio de Janeiro, na Casa França Brasil”, contou.

Quatro Estações – Casa França Brasil – Rio de janeiro (Foto: Divulgação/ Instagram)

Sobre a escolha do lugar para enterrar suas obras, ela afirma que todos os lugares da terra são sagrados e que já teve telas deixadas na Amazônia, Japão, Suíça, no caminho de Santiago de Compostela, onde enterrou mais de 100 telas, e afirma ser um lugar especial para ela e o escritor Paulo Coelho. “É um lugar muito especial, onde se diz que é a mão que toca o céu. É muito simbólico para mim tudo isso”.

As telas da artista são enterradas na natureza, mas depois são retiradas. Christina contou dos quadros que não conseguiu recuperar e detalhou como funciona o processo de finalização de seu trabalho.

“Normalmente, quando eu tiro o trabalho da natureza, eu não sei o que eu vou encontrar, é sempre uma surpresa muito grande. Porque tem lugares que eu acho que não vai ter muita interferência da natureza e os quadros recebem uma interferência muito grande. Cada trabalho é um trabalho, diferente na forma que eu vou enquadrá-lo, a maneira que vou apresentar para o público”, pontuou.

Flora & Fauna, colaboração de Blake Jamieson e Christina Oiticica (foto: Divulgação/ Instagram)

Christina destacou a ‘Rosa Dourada’ como seu quadro favorito e falou sobre seu processo de criação. “A minha inspiração vem com o trabalho. Eu gosto muito do coração, da boca, da rosa que é sagrado para mim. A boca é a nutrição, então tem toda essa coisa do feminino, da amamentação, do seio feminino”.

As obras de Christina Oiticica já foram exibidas em mais de sessenta galerias em doze países diferentes. Entre as principais exposições se destacam: Carrousel du Louvre em Paris, França; Festival Art. Masters no St Moritz, Suíça; Galería Mestnua em Ljubljana, Eslovênia; Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, Brasil; Casa de Oscar Wilde em Dublin, Irlanda.

Christina Oiticica e Paulo Coelho na criação

A artista contou que Paulo Coelho participa de suas criações, cavando a terra, dando ideias e até gravava o processo. Ela falou que há projetos em que utilizou os escritos do esposo para seus quadros.

“Eu fiz uma série de quadros que eu coloquei as frases do Paulo, mas esse foi um trabalho que fiz e não enterrei, são quadros que eu fiz antes de começar a enterrar, era uma outra fase. Tem uma série que eu fiz com Romero Britto, a gente fez uma exposição em Santiago de Compostela, que eu coloquei frases do Diário de Um Mago, mas aí com a letra dele”, disse.

Pagina do livro ‘Caminhos Revividos’, construído em colaboração de Christina Oiticica e Paulo Coelho (Foto: Divulgação)

A parceria entre os dois também resultou na criação de ‘Caminhos Revividos’, uma edição de luxo feita com suas ilustrações e manuscrito pelo Paulo Coelho. Assim como também, um livro infantil adaptado por Paulo, chamado ‘A Nuvem e a Duna’, entre outros.

Mudança para Europa

Christina Oiticica explicou que na Europa é mais fácil vender sua arte, que eles [ela e Paulo] sempre tiveram vontade de morar fora do Brasil, e que encontraram na Suíça um bom lugar.

“Genebra é um cidade muito tranquila. Uma cidade pequena, mas que tem tudo, tem um ótimo sistema de transporte público e é muito bom, porque você está dentro da natureza e me lembra um pouco o Rio de Janeiro, porque tem o lago, não é o mar, mas é água, e tem as montanhas em volta. O Rio tem muita montanha, matas, de vez enquanto eu me sinto até no Rio”, disse.

Christina Oiticica em seu processo de criação (Foto: Divulgação/ Instagram)

“Mas eu adoro o Brasil, o Paulo também, adoro o Rio de janeiro, adoro o Nordeste, minha família é do Nordeste, as minhas raízes são todas brasileiras. Na minha casa faço muita comida nordestina, a feijoada carioca, então essa coisa da comida é muito importante, ela representa bem as nossas raízes”, acrescentou.

Religião

A artista contou ser uma pessoa muito religiosa e devota de vários santos.

“Eu rezo todos os dias o terço, faço um monte de oração e eu adoro. Me relaxa, é como se fosse uma meditação… você ter fé, acreditar é muito importante. Não importa qual a religião, mas se tem amor e você tem fé, você alcança as coisas”, afirmou.

Christina falou também que já recebeu muitos milagres em sua vida e destacou uma viagem que fez ao lado do Paulo e se livraram de um grande acidente na rodovia. Ela também revelou uma promessa feita pelo esposo, que conseguiram pagar depois de muitos anos.

“Ele prometeu a santa Nhá Chica que se algum dia ele se tornasse um escritor famoso, conhecido mundialmente, ele ia levar uma rosa vermelha e uma rosa branca, quando ele completasse 50 anos, e nós fomos juntos pagar essa promessa”.

Paulo Coelho e sua fama mundial

Christina contou que a fama mundial de Paulo Coelho e todo assédio em cima dele não a incomoda.

“Eu fico muito contente, muito feliz, porque se ele tem esse assédio, se as pessoas procuram, se ele tem esse sucesso, é uma coisa maravilhosa. Quanto mais sucesso melhor, quanto mais livros ele vender, melhor ainda, quanto mais pessoas tomarem conhecimento do texto dele, das mensagem que ele escreve, que ele passa para as pessoas… eu acho maravilhoso. Eu nunca tive nenhum problema em relação a isso”, garantiu a artista.

Christina Oiticica e Paulo Coelho (Foto: Divulgação/ Instagram)

Ela contou também sobre as opiniões que dá na construção dos livros do esposo.

“Antigamente eu até lia quando ela começava a escrever. Mas aí depois a gente mudou esse esquema, porque eu começava interferir, então eu leio sempre no final. Quando termina, às vezes eu posso comentar alguma coisa, ele pode aceitar ou não aceitar, como no meu trabalho também, ele dá uma opinião, eu posso aceitar ou não aceitar”, pontuou.

Christina Oiticica destacou os livros favoritos escrito pelo esposo. “Eu gosto de todos. As Valquírias é especial, porque eu participei bem, é uma coisa presente alí, mas eu gosto de todos. Eu gosto muito do O Zahir também, agora o mais conhecido é Alquimista, mas eu gosto de todos”.

Planos e futuro

Christina  apontou artistas e obras que à inspiram, como os pintores espanhóis Salvador Dalí, Picasso, Goya, destacando Sorolla, que trabalha a luz e cor em suas obras. Ela afirma que gostaria de pintar um quadro como ele. A artista disse ainda que quer plantar uma de suas obras no Nordeste.

“Gostaria de colocar em um lugar onde tem uma Oiticica, embaixo da árvore. Eu tenho um trabalho aqui, que finalizei no Brasil, que foi no sul da Bahia, na aldeia dos Pataxós. Eu fiz um trabalho com um indígena que é artista plástico e está pronto esse trabalho”, disse.

No final da entrevista, Christina Oiticica falou ainda sobre sua obra ‘Coração da Bahia’, que faz muito sucesso na Europa. Ela pontuou sobre os seus medos, sobre o Brasil, lugares que iria, arrependimentos, sonhos, quem é Paulo Coelho para ela, o que pediria a Deus e destacou a saudade da manga brasileira.

Christina Oiticica enterrando mais um de seus projetos (Foto: Divulgação/ Instagram

Christina Oiticica nas redes sociais 

Acompanhe o trabalho da artista plástica Christina Oiticica pelo seu perfil oficial no Instagram @chris_oiticica, ou pelo site www.christinaoiticica.com.br.

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