Sigilo e pouco efeito: há um mês, operação trazia à tona corrupção no futebol da PB
Polícia Civil e Ministério Público já investigavam há 6 meses uma suposta manipulação de resultados no Campeonato Paraibano. Desde então, clima é tenso, mas ainda não há muito resultado prático
A decisão do Campeonato Paraibano, entre Botafogo-PB e Campinense, no Almeidão, no dia 8 de abril, foi o último ato do espetáculo futebolístico do principal torneio do futebol da Paraíba. Tão logo chegou o dia seguinte, a competição deste ano foi posta em xeque. Nas primeiras horas da segunda-feira pós-final de Paraibano, foi deflagrada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP) a Operação Cartola, que há cerca de seis meses já investigava um suposto esquema de manipulação de resultados no campeonato estadual. Nesta quarta-feira, faz um mês da divulgação da investigação e, até agora, pouco foi revelado sobre os resultados das apurações.
O principal motivo é que a investigação seguia em total sigilo até essa terça-feira, quando a juíza Andréa Galdino, da 4ª Vara Criminal de João Pessoa, autorizou a retirada do sigilo das escutas telefônicas juntadas ao inquérito policial para os investigados e partes interessadas. A polícia, entretanto, segue sem poder tornar público o conteúdo do que foi realmente descoberto até agora.
O Ministério Público e a Polícia Civil apuram supostos crimes cometidos por uma possível organização criminosa composta por membros da Federação Paraibana de Futebol (FPF), da Comissão Estadual de Arbitragem da Paraíba (Ceaf-PB), do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba (TJDF-PB) e por dirigentes de clubes de futebol profissional da Paraíba.
Na segunda-feira após a final do Paraibano, que sagrou o Botafogo-PB campeão estadual deste ano, foram obedecidos 39 mandados de busca e apreensão nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Campina Grande e Cajazeiras. As sedes da FPF, do TJDF-PB, do Botafogo-PB, do Campinense e do Treze e de outros clubes, residências de dirigentes de clubes, da FPF, da Ceaf-PB, além das casas de alguns árbitros do estado também foram alvo da polícia.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do MP, já foram identificado dois núcleos desta suposta organização criminosa com aproximadamente 80 integrantes. O primeiro núcleo seria formado por membros da FPF, da Ceaf-PB e por dirigentes de clubes do futebol profissional. O segundo seria formado por funcionários da FPF e de clubes, além de por pessoas ligadas à Ceaf-PB.
Os investigados
Com a investigação ainda sob sigilo, nem a Justiça nem o MP nem a Polícia Civil revelaram oficialmente quais as pessoas que estão sendo investigadas. O GloboEsporte.com apurou, no entanto, o nome de alguns agentes do futebol paraibano que estão na mira da operação. O atual presidente da FPF, Amadeu Rodrigues, e o vice, Nosman Barreiro, são alvo da investigação. Nosman revelou, inclusive, ser um dos autores da denúncia. Até Rosilene Gomes, que presidiu a entidade de 1989 até 2014, quando foi afastada por irregularidades nas eleições da entidade, também é investigada.
Outro nome importante do futebol paraibano que também está na mira da polícia e do MP é o do ex-presidente da Ceaf-PB, José Renato. No Botafogo-PB, o presidente Zezinho do Botafogo, o vice Guilherme Novinho, o vice de futebol, Breno Morais, o diretor executivo de futebol, Francisco Sales, e o diretor jurídico do clube, Alexandre Cavalcanti, são alvos da Operação Cartola.
No Treze, Polícia Civil e MP investigam o presidente Juarez Lourenço, o diretor de futebol Fábio Azevedo e Alankardec Cavalcanti, que é dirigente do clube e homem forte do departamento de futebol do Galo. Os presidentes do Campinense, William Simões, do CSP, Josivaldo Gomes, e do Sousa, Aldeone Abrantes, também são investigados.
Vários árbitros centrais e auxiliares da Paraíba também estão na mira da operação policial. Alguns deles, inclusive, são do quadro de arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), casos de José Maria de Lucena Netto, João Bosco Sátiro, Éder Caxias, Renan Roberto e Luis Felipe. Já Adeilson Carmo, Dguerro Xavier, Antônio Carlos Rocha (Mineiro), Antônio Umbelino, Diego Roberto e Tarcísio José (Galeguinho) são os investigados do quadro local.
Por conta de a operação apurar a conduta de vários árbitros paraibanos, a CBF decidiu afastar os citados das escalas de jogos de competições regionais e nacionais até que a investigação seja concluída.
Caiu o primeiro
Até agora, a Operação Cartola teve apenas um grande efeito prático no futebol paraibano. Após a divulgação das denúncias e da investigação, as atenções se voltaram para o presidente da Ceaf-PB, José Renato. De acordo com a Polícia Civil e o MP, as supostas manipulações de resultados eram realizadas com o conhecimento e a participação do dirigente.
No dia 20 de maio, Amadeu Rodrigues, presidente da FPF e que também é investigado, não suportou a pressão e destituiu o ex-árbitro paraibano do cargo. José Renato nega as acusações.
– Ninguém admite tratativas que venham a se relacionar com qualquer tipo de manipulação de resultados. Isso para mim é um absurdo – o ex-presidente da Ceaf-PB.
No comando da Comissão de Arbitragem, estão agora o coronel Marcos Sobreira e o major Juceilton Soares, tendo o coronel como presidente.
Sigilo da investigação
Um dos pontos importantes neste processo investigativo é que até agora o sigilo não foi quebrado. Nessa terça-feira, no entanto, a juíza da 4ª Vara Criminal de João Pessoa, Andréa Galdino, fez o primeiro movimento nesse sentido. Ela liberou a difusão das escutas telefônicas, dentre outros conteúdos juntados ao inquérito policial, para os investigados e partes interessadas.
Até essa terça, no entanto, ninguém tinha tido acesso a todas as evidências que a Polícia Civil e MP tinham colhido. Esse procedimento foi alvo de muitas críticas. A FPF pediu formalmente a quebra do sigilo, o que só ocorreu nessa terça-feira para as partes interessadas e os investigados.
Alguns dos alvos da Operação, inclusive, também reclamaram da forma como o delegado responsável pela operação, Lucas Sá, conduziu as investigações. De acordo com alguns deles, que não quiseram se identificar, ele colocou em xeque a credibilidade de instituições e pessoas, sem mostrar nada de substancial até o momento.
O presidente do Conselho Deliberativo do CSP – que é quem comanda na prática o departamento de futebol do clube e faz as vezes de presidente da diretoria executiva -, Josivaldo Alves, reclamou da abordagem da Polícia Civil quando cumrpiu o mandado de busca e apreensão na sede do Tigre.
– O modus operandi é como se estivessem lidando com bandidos. Se tem alguma coisa para se investigar, que se investigue. A gente não tem nada a temer – afirmou Josivaldo Alves.
O que dizem os citados
Os principais investigados foram na mesma linha no primeiro posicionamento após a deflagração da Operação Cartola. Amadeu Rodrigues, FPF, Treze, Botafogo-PB e Campinense disseram que estavam dispostos a colaborar com as investigações. Todos adotaram um discurso bem similar, se colocando à disposição para quaisquer esclarecimentos que pudessem prestar à investigação no sentido de resolver as questões em aberto.
E não apenas os citados diretamente na investigação. De acordo com a Polícia Civil, todos os dirigentes dos 10 clubes da 1ª divisão do Campeonato Paraibano deste ano estão sendo investigados. Mas nem contra todos eles houve mandado de busca e apreensão. É o caso do presidente do Auto Esporte, Watteau Rodrigues, que também se dispôs a ajudar no que fosse preciso.
Quais desses dirigentes foram ouvidos diretamente pela polícia, no entanto, segue sendo uma informação omitida, por enquanto. Mas é fato que alguns deles já prestaram depoimento, repassando informações que certamente ajudam a compor o material fechado pela polícia nessa primeira fase da Operação Cartola.
Fonte: Globo Esporte PB - https://globoesporte.globo.com/pb/futebol/noticia/sigilo-e-pouco-efeito-ha-um-mes-operacao-trazia-a-tona-corrupcao-no-futebol-da-pb.ghtml
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