Escutas telefônicas indicam que relação do TJDF-PB com o Treze estava estremecida
Em interceptação telefônica realizada pela polícia, dirigente do tribunal desportivo do estado pediu para que o procurador geral oferecesse denúncia contra o Galo, após brigas de torcedores
A relação entre o Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba (TJDF-PB) e o Treze não estava dos melhores neste ano. Ao ponto de o presidente do TJDF-PB, Lionaldo Santos, sugerir ao procurador geral do tribunal, Marinaldo de Barros, que ele oferecesse uma denúncia contra o Galo da Borborema, após torcedores do clube terem criado uma confusão nas arquibancadas do Estádio Amigão, no segundo jogo da semifinal do Campeonato Paraibano. O dirigente do TJDF-PB até revela que queria que o clube alvinegro perdesse três mandos de campo.
O fato em questão é na partida entre Treze e Botafogo-PB, disputada no dia 1º de abril, no Estádio Amigão, em Campina Grande. Era o segundo jogo da semifinal e decidiria quem avançaria para a decisão do título. Por recomendação do Ministério Público, que foi atendida pela Federação Paraibana de Futebol (FPF), o jogo aconteceu com torcida única, no caso, a do Galo.
No segundo tempo, com o Botafogo-PB já vencendo o rival dentro da casa do adversário, a torcida do Treze começou uma confusão na Arquibancada Sol. A polícia chegou a utilizar bombas de efeito moral para tentar controlar o tumulto. Homens, mulheres e crianças, inclusive, acabaram tendo que entrar no campo para poderem sair da confusão. Apesar disso, após o jogo, o árbitro carioca da Fifa, Wagner do Nascimento Magalhães, não relatou em súmula a ocorrência.
Um dia após o confronto, em uma conversa telefônica grampeada pela Polícia Civil, a que o GloboEsporte.com teve acesso, Lionaldo Santos falou com Marinaldo de Barros para que o fato fosse julgado de qualquer maneira. A ideia era fazer com que o Treze fosse punido.
Lionaldo: Vou falar agora mesmo com Araújo para mandar a súmula…
Marinaldo: É… pra lascar…
Lionaldo: Quero ver se dá para perder uns três mandos de campo.
Marinaldo: Não… o máximo… o máximo…
Lionaldo: O máximo é quanto?
Marinaldo: Vou olhar… o máximo é dez…
Lionaldo: (risos)
(…)
Marinaldo: Mande logo direto pra mim… para lascar logo essa p… mande direto logo…
Lionaldo: Mas pode ser?
Marinaldo: Pode… mande pra mim…
Lionaldo: Eu tava pensando em botar Andrei, mas…
Marinaldo: Não, bote pra mim… eu lasco aí…
Lionaldo: Tá bom… já dá uma manchete… (risos)
No dia 9 de maio, o Treze foi julgado e condenado à perda de quatro mandos de campo. A pena vai ser cumprida no Campeonato Paraibano do ano que vem. O árbitro carioca da Fifa, Wagner do Nascimento Magalhães, também foi punido, sendo que com uma suspensão de 30 dias, por não relatar a confusão da torcida na súmula.
Procurado pela reportagem, o procurador Marinaldo de Barros negou que tenha sofrido qualquer pressão para tomar decisões com relação ao Treze e que todas as suas atitudes foram sempre no sentido de cumprir o papel que o seu cargo exige.
– Nunca recebi pressões de ninguém para atuar como procurador. A minha obrigação é denunciar qualquer infrator, como sempre fiz nos processos em que atuei. Em toda infração disciplinar que chegou ao meu conhecimento, eu agi com rigor porque é essa a minha atribuição. Com relação ao áudio de minha fala com o presidente Lionaldo, diz respeito a uma exigência minha como procurador, para denunciar o Treze com rigor, porque as imagens que me foram enviadas eram graves e a súmula da partida ainda não havia chegado ao Tribunal. Eu fui eleito por nove auditores do Tribunal Pleno e não devo satisfações a ninguém para me pressionar. Enquanto eu estiver no TJD, agirei com rigor, evidentemente sempre atento ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva – cravou Marinaldo.
Presidente em rota de colisão com advogado
O pedido de Lionaldo Santos para que o procurador do TJDF-PB oferecesse denúncia contra o Treze não é o único episódio que envolve o Galo da Borborema e o dirigente da corte desportiva paraibana. Em outras interceptações telefônicas realizadas na Operação Cartola, o presidente do tribunal relata o problema pessoal que tem com o advogado do Alvinegro, George Ramalho Júnior.
Numa delas, Lionaldo fala com Amadeu Rodrigues para que o presidente da FPF fale com Marcos Souto Maior, assessor jurídico da entidade, para que este entre em contato com alguém a quem se refere como “vice-presidente” para dar uma “lapada” no advogado do Treze.
Ainda nesse diálogo, segundo um dos relatórios da Polícia Civil, Amadeu Rodrigues diz que vai realizar o pedido de Lionaldo Santos e sugere que o tribunal vá para cima do Treze.
Em contato com a redação, Lionaldo Santos garantiu que não tem nada contra o Treze, mas que o advogado do clube vem querendo lhe prejudicar há algum tempo.
– Eu não tenho nada contra o Treze, mas esse advogado faz um inferno contra mim. Eu não fiz nada contra ele. Quando eu falo em uma “lapada” é uma “lapada” na ética – explicou Lionaldo.
George Ramalho, de sua parte, disse também não ter nada contra Lionaldo, mas lembrou o episódio em que o Treze tentou ter acesso à decisão liminar que suspendia o jogo de ida da semifinal, entre o Galo e o Botafogo-PB, no Almeidão, e não conseguiu. Segundo o advogado trezeano, o clube foi impedido de ter acesso aos documentos, que estavam em poder do presidente do TJDF-PB, mas fora no prédio da entidade, mesmo que se tratasse de horário de expediente.
– Não tenho nada pessoal contra Lionaldo. Com relação a esses áudios, espero que ele explique o seu conteúdo às autoridades competentes – comentou George Ramalho.
Fonte: Globo Esporte PB - https://globoesporte.globo.com/pb/futebol/noticia/escutas-telefonicas-indicam-que-relacao-do-tjdf-pb-com-o-treze-estava-estremecida.ghtml
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