Papa Francisco condena fofoca praticada por cabeleireiros e alimenta polêmica em salões de beleza
A declaração do Papa Francisco repercutiu no mundo inteiro, principalmente nos salões de beleza.
Futrica, fuxico e fofoca são três termos que significam a mesma coisa: falar da vida alheia. E, nenhum lugar está tão associado à essa atividade como os salões de beleza. Há quem diga, inclusive que é a essência deles. Por isso, num encontro que teve na segunda-feira, no Vaticano, com uma delegação formada por cabeleireiros e esteticistas integrantes do Comitê de São Martinho de Porres, padroeiro da categoria, o Papa Francisco recomendou que esses profissionais evitassem a tentação da fofoca durante o trabalho. A fala do Sumo Pontífice ecoou nos salões do Rio, onde gerou polêmica.
— A pessoa vem aqui se expressar, falar seus problemas. Somos uma espécie de psicólogos. Os clientes desabafam os seus problemas. Fofoca é um termo muito pesado — desconversa Ingrid Pires Ribeiro, dona do salão Medeiros Coiffeur, no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio.
— Não existe salão de beleza sem fofoca — sentencia a profissional, acrescentando que a língua do ser humano é afiada.
Porém, há quem prefira recorrer a eufemismos, para fugir da fama de fofoqueiro. É o que faz o cabeleireiro José Cláudio de Oliveira, de 46 anos, que trabalha num salão do Catete, na Zona Sul. Ele diz que é comunicativo e explica a diferença:
— Comunicativo é aquela pessoa que gosta de conversar sobre assuntos de interesse universal. Já o fofoqueiro não. Ele se interessa por assuntos da vida particular das pessoas — define.
Para Flávio de Castro Sobrinho, presidente do Sindicato dos Empregados em Institutos de Beleza e Cabeleireiros de Senhora do Município do Rio, que representa cerca de 80 mil profissionais empregados em mais de 30 mil salões da cidade, a fama de fofoqueira da categoria é injusta. Ele diz que quando muito, existe o que chama de “fofoca positiva”, que é feita para atrair clientes.
— Principalmente as grandes redes de salões por terem um frequência artistas, jogadores de futebol e gente de alta sociedade, gosta de espalhar quem esteve lá. É uma forma de ganhar visibilidade, tipo um marketing. Mas, fofoca não existe. Se um cliente e um colega tiverem uma conversa de cunho pessoal fica entre eles. Muitos cabeleireiros, inclusive se passam por psicólogos. Eles ouvem muitas coisas, incluindo as mágoas e frustrações dos clientes, mas guardam para eles, até para garantir a fidelidade, que é a alma do negócio — assegura.
Durante o encontro com os profissionais, o Papa Francisco pediu aos seus interlocutores para “praticar a profissão com um estilo cristão, tratando os clientes com gentileza e sempre oferecendo uma agradável palavra de encorajamento, mas evitando ceder à tentação da fofoca que facilmente chega ao seu ambiente”. Mas, há quem ache que uma coisa não anula a outra.
— Acho que o Papa tem mais o que fazer do que se preocupar com a fofoca dos outros. Até me deixa impressionada esse comentário dele. Falar da vida do outro é normal. Acontece em qualquer lugar, seja no ônibus, no metrô, no ambiente de trabalho e até mesmo em casa. Ele tem que se preocupar é com relação aos problemas da alma a com a reza — sugere a especialista ambiental Andrea Paiva, de 36 anos, cliente do salão Rio Minas, no Catete.
A manicure Maria Regina Mendes, de 45 anos, do mesmo salão, concorda que há muita fofoca nesse tipo ambiente, mas considera injusta que toda a fama recaia sobre os profissionais. A indiscrição muitas vezes parte do cliente, segundo ela.
— Parte dos dois lados. Por isso é injusto só um deles ficar com a fama. Já ouvir coisas que não posso contar. Prefiro guardar para mim — garante.
A cabeleireira Joelma Albuquerque, de 38 anos, já ouviu muita coisa pelos salões de beleza onde passou nos 20 anos que tem de profissão. Ela também acha injusto que só um dos lados fique com a fama:
— Rola muita fofoca sim, mas parte dos dois lados. Eu por exemplo não conto minha minha vida para ninguém, mas a cliente quer saber se sou casada, solteira ou se estou namorado. Nesse caso desconverso. Mas, tem também aquela mulher que brigou em casa, chega deprimida e sai com o astral lá em cima depois de desabafar. A gente é mais psicólogo do que cabeleireira — compara.
Para a cliente de Joelma no salão do Centro, a taxista Márcia Lira, de 53, é injusto que a fama recaia toda sobre uma única categoria profissional. Segundo ela, falar da vida alheia é uma atividade que não está restrita a quem trabalha nos salões de beleza.
— Porteiro é uma categoria muito fofoqueira. Sabe da vida de todo mundo e às vezes espalha. Eu mesma já processei um que quis se meter com minha vida. No táxi também a gente ouve e vê cada coisa e ás vezes não tem como não se envolver. Mesmo quando a conversa do passageiro é por telefone, não tem como não ouvir. Eu mesma já quase me vi envolvida numa fofoca com um passageiro — relata.
Poucos são os homens que admitem fofocar, mesmo num ambiente de salão de beleza. O cabeleireiro Máximo Clay, do Studio L´Equipe garante que suas conversas com os clientes giram todas em torno de futebol. O barbeiro Matheus Levi Carmo de Oliveira, de 28 anos, é outro que diz preferir conversar sobre a performance dos jogadores em campo. Já porteiro Reinaldo da Silva Jerônimo, de 53, que frequenta o salão do Catete, admite que já ouviu fofoca, mas nunca teve seu nome envolvido numa.
— Ninguém está livre dela (da fofoca) — brinca
Com a polêmica, foi o papa que virou assunto nos salões.
Padroeiro dos cabeleireiros e não dos fofoqueiros
Não há uma linha sequer na biografia de São Martinho do Porres, o padroeiro dos cabeleireiros, que o associe à fofoca. Nascido em Lima, no Peru, em 1579, passou para a posteridade como o primeiro santo negro da América. Era filho ilegítimo do nobre espanhol João de Porres, com uma escrava liberta.
De acordo com relato do jornalista peruano Marco Aurelio Denegri, o pai de São Martinho se chamava na verdade, João de Porras. Mas, devido ao uso vulgar da palavra em países lusófonos, a Igreja Católica achou por bem alterar o sobrenome do santo. Ainda jovem, ele transformou o preconceito sofrido por conta de sua cor em compaixão pelos pobres e desprezados.
Ainda jovem estudou o ofício de barbeiro, que equivalia na época a ser médico e dentista. Na mesma ocasião ouviu o chamado de Deus e resolveu entrar na vida religiosa, tendo ingressado num convento da Ordem de São Domingos. Considerado muito dedicado e rabalhador, tratava todos de maneira e incansável. Quando uma epidemia atingiu o Peru, superlotou o convento de doentes.
Durante o encontro no Vaticano, Francisco pediu aos profissionais para seguir o exemplo do monge dominicano peruano, conhecido pelo talento e gentileza. São Martinho de Porres morreu em 3 de novembro de 1639, data em que é comemorado o seu dia, no calendário liturgico. Mas, somente em 1962 foi canonizado pelo Papa João XIII. O monge também era conhecido por seus milagres.
Fonte: Extra - https://extra.globo.com/noticias/rio/papa-condena-fofoca-praticada-por-cabeleireiros-alimenta-polemica-em-saloes-do-rio-23633249.html
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