Teólogo divulga artigo criticando evento promovido pela UFCG que se opôs a Grupo de Oração católico
De acordo com o teólogo, todas as falas do debate tiveram "teor preconceituoso acerca da religião"
O teólogo Francivaldo da Silva Sousa escreveu um artigo criticando o debate intitulado “Universidade e Laicidade”, promovido pela Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Bodocongó (CG), que, segundo ele, foi um evento em resposta à realização de um Grupo de Oração liderado pela Renovação Carismática Católica dentro do campus da instituição.
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De acordo com o teólogo, todas as falas do debate tiveram “teor preconceituoso acerca da religião, particularmente do cristianismo” e “não houve uma colocação sequer que considerasse a religião sob uma perspectiva positiva.”
No texto, Francivaldo da Silva Sousa reconhece que a universidade é laica, porém afirma que “cada indivíduo tem o direito de expressar sua fé em qualquer espaço público”.
Francivaldo da Silva Sousa (Vavá) é membro da Comunidade Remidos no Senhor. Graduado em Teologia, escritor e integrante da Comissão Educação, Cultura e Universidades, da Diocese de Campina Grande.
Leia o artigo completo:
LAICIDADE OU PRECONCEITO RELIGIOSO?
Acerca do “debate” na UFCG
Francivaldo da Silva Sousa
A Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Bodocongó (CG), através do PET-História e do Grupo de Estudos Antônio Gramsci, promoveu nesta quinta-feira, 14 de março de 2019, um “debate” intitulado “Universidade e Laicidade”. Tratou-se de um gesto opositório à realização de um Grupo de Oração liderado pela Renovação Carismática Católica dentro do Campus da Instituição. Conforme os organizadores do presumido “debate”, manifestações religiosas desta natureza são incompatíveis com o mundo acadêmico, tendo este por finalidade produzir conhecimento e não, segundo eles, fomentar o obscurantismo religioso.
O evento foi aberto com a leitura de um texto intitulado “A UFCG é laica: contra toda forma de obscurantismo”, seguida de diversas falas livres, todas com teor preconceituoso acerca da religião, particularmente do cristianismo. Na opinião dos manifestantes, o cristianismo é o causador por excelência de toda forma de violência e pânico social. Não houve uma colocação sequer que considerasse a religião sob uma perspectiva positiva.
Merecem destaque pelo menos dois pontos do texto acima referido. No terceiro parágrafo, está dito que o “avanço de práticas obscurantistas, como as de caráter religioso […], podem ferir de morte” a razão de ser da Universidade e “a produção do saber crítico”. Em outras palavras, o texto sugere que proporcionar aos estudantes universitários momentos de oração, para quem livremente os queira, consiste numa espécie de homicídio à produção do conhecimento e do saber crítico. Seria isso mesmo verdade? Não está presente nessa asserção uma visão fundamentalista e até pueril da religião e do conhecimento científico?
“Entendemos que religião é questão de foro íntimo”, defende-se no parágrafo seguinte. Outra vez, um argumento frágil! Se a religião fosse algo somente do foro íntimo, ela não seria estudada também pelas ciências sociais. Por esta razão é que existe não apenas uma psicologia, mas também uma sociologia da religião.
Por fim, como testemunha ocular do “debate” que ocorreu na UFCG, gostaria de, primeiramente, dizer que a Universidade é laica, no entanto cada indivíduo tem o direito de expressar sua fé em qualquer espaço público, como seja a Academia. O Grupo de Oração que acontece na UFCG não é institucionalizado, mas faz parte da livre iniciativa dos estudantes católicos de se reunirem para rezar. E se eles querem fazê-lo, que problema há nisso?
Impressiona-me o clima de ódio e repulsa à religião (especialmente a cristã) presente em muitos ambientes acadêmicos. Como se Deus fosse uma ameaça à liberdade de pensamento. Aqueles que assim agem têm o direito de não possuir nenhum vínculo religioso. O pior, porém, consiste em querer impedir outras pessoas de terem-no. Desta forma, o clássico discurso de respeito às diferenças e de tolerância à pluralidade não passa de uma falácia ou, no máximo, de um recurso retórico usado somente quando diz respeito aos próprios interesses ideológicos.
Finalmente, o que deveria ser um debate resultou apenas numa vitrine na qual foram expostos argumentos inconsistentes e carentes de bases filosóficas e históricas, pautados mais em preconceitos religiosos do que mesmo numa correta e imparcial hermenêutica da laicidade do Estado.
Campina Grande, 15 de março de 2019.
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